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Gerenciando Emoções no Trabalho: Um Capricho ou Uma Necessidade para Alta Performance

  • Foto do escritor: Clauber de Andrade
    Clauber de Andrade
  • 29 de jun.
  • 6 min de leitura
Pessoas gerenciando um projeto.

Resumo


A inteligência emocional tornou-se um pilar indispensável para o sucesso no ambiente profissional contemporâneo. Muito além de um diferencial competitivo individual, a capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar emoções influencia diretamente o desempenho, a liderança e a própria construção de uma carreira sólida e direcionada às aspirações de cada profissional. Neste artigo, vou explorar como a inteligência emocional impacta as decisões, as relações interpessoais e a evolução da carreira, oferecendo também estratégias práticas para o desenvolvimento dessa competência essencial na jornada de profissionais e líderes.


Introdução


Durante muito tempo, falar sobre emoções no ambiente corporativo era visto como algo inadequado ou supérfluo. Predominava a crença de que a racionalidade deveria guiar todas as ações profissionais, enquanto os sentimentos precisavam ser contidos ou ignorados.


Contudo, à medida que o mundo do trabalho se transformou e a sociedade evoluiu, ficou evidente que as emoções influenciam profundamente as decisões, os relacionamentos, a performance das equipes e até mesmo as chances de sucesso da carreira profissional.


Hoje, a capacidade de entender e gerenciar emoções é reconhecida como uma competência essencial para a liderança e o sucesso organizacional. Com base em pesquisas científicas e exemplos práticos, exploro neste artigo porque e como você deve valorizar e gerenciar as emoções no seu dia a dia profissional.


1. Emoções e Decisões: Da Razão ao Reconhecimento do Papel Emocional


Historicamente, a sociedade e o mundo corporativo privilegiaram a razão sobre a emoção. A tomada de decisão era vista como um processo puramente racional, e qualquer aspecto emocional no dia a dia de trabalho era até mesmo percebido como aspecto de fraqueza ou como algo que não cabia nas salas de discussões e decisões corporativas.


Esse paradigma de valorização da racionalidade também dominou o campo das finanças durante boa parte do século XX. Modelos clássicos, como a Teoria dos Mercados Eficientes proposta por Fama (1970), partiam da premissa de que os agentes econômicos agiam de maneira perfeitamente racional, utilizando todas as informações disponíveis para maximizar seus resultados de forma objetiva e lógica.


Entretanto, a partir dos anos 1970, pesquisadores como Kahneman e Tversky (1974) começaram a questionar essa visão idealizada do comportamento humano. Por meio de estudos sobre heurísticas e vieses cognitivos, eles demonstraram que as decisões financeiras — e, por extensão, muitas outras escolhas humanas — são fortemente influenciadas por fatores emocionais e atalhos mentais.


Essa nova perspectiva, que originou o campo das finanças comportamentais, mostrou que a irracionalidade é parte inerente do processo decisório humano, especialmente em ambientes de incerteza.


Essa compreensão rapidamente ultrapassou o domínio das finanças e passou a influenciar também o entendimento sobre o comportamento organizacional, impactando a forma como empresas, líderes e profissionais passaram a reconhecer o papel das emoções na tomada de decisão e na construção de ambientes de alta performance.


No campo das neurociências, destaca-se também a contribuição de Damásio (1996), que em sua obra O Erro de Descartes reforça que as emoções são elementos fundamentais no processamento de informações e no comportamento humano. Elas não apenas reagem aos eventos, mas também moldam nossa percepção de risco, oportunidade e interação social.


A inteligência emocional ganha, então, contornos de sua importância para a compreensão do comportamento humano e naturalmente passa também a ganhar espaço nas discussões do ambiente corporativo e até mesmo para o desenvolvimento de carreira dos profissionais.


2. Inteligência Emocional e Desempenho Profissional.


Neste sentido, a inteligência emcocional emerge como uma competência vital para o sucesso profissional. Daniel Goleman popularizou a inteligência emocional (“IE”) como a capacidade de reconhecer, entender, gerenciar e usar estrategicamente as emoções. Segundo seu modelo, a IE é composta por quatro pilares principais:


  • Autoconsciência: Reconhecer as próprias emoções e compreender seu impacto.

  • Autogestão: Regular emoções, impulsos e comportamentos para agir de forma positiva.

  • Consciência social: Perceber e compreender emoções nos outros.

  • Gestão de relacionamentos: Construir e manter relações saudáveis por meio da empatia e da comunicação eficaz.


Diversos estudos científicos reforçam a importância da IE no ambiente de trabalho. Em alguns deles, por exemplo, comprovaram-se que funcionários com níveis mais elevados de inteligência emocional apresentavam desempenho superior no trabalho (Sy, Tram e O’Hara, 2006; O’Boyle et al., 2011).


Essas evidências sustentam que a gestão emocional no trabalho não é um capricho ou uma sensibilidade excessiva, mas sim um diferencial estratégico e um fator crítico para o sucesso individual e organizacional.


3. O Paradoxo da Liderança: Razão vs. Emoção


Se as pesquisas comprovam que a inteligência emocional potencializa resultados, por que tantos líderes ainda resistem à sua adoção?


Vejo que a resposta está enraizada nas culturas organizacionais tradicionais. Durante décadas, a liderança empresarial foi moldada sob a ética da racionalidade extrema.


Emoções eram consideradas distrativos ou sinais de fraqueza, e muitos gestores foram treinados a suprimir sentimentos em nome da "profissionalização".


Contudo, o mercado atual, cada vez mais complexo e centrado nas relações humanas, exige uma nova abordagem. O líder que ignora a dimensão emocional corre o risco de desconectar-se de suas equipes, gerar ambientes de desconfiança e comprometer a performance.


Líderes emocionalmente inteligentes têm a capacidade de:


  • Criar ambientes de alta confiança e colaboração.

  • Reduzir conflitos e estimular o engajamento.

  • Motivar equipes com propósito e pertencimento.

  • Desenvolver o potencial de seus colaboradores com empatia e comunicação eficaz.


Desenvolver a inteligência emocional, então, não é uma concessão ao sentimentalismo, mas sim um investimento estratégico que gera benefícios duradouros tanto para o ambiente de trabalho quanto para a trajetória individual.


Profissionais que cultivam a autoconsciência, a empatia e a capacidade de gerenciar emoções fortalecem virtudes como a resiliência, o equilíbrio emocional e a habilidade de influenciar positivamente as pessoas ao seu redor.


Essas competências não apenas potencializam os resultados de suas equipes, mas também ampliam sua capacidade de adaptação, liderança e crescimento ao longo da carreira, criando bases sólidas para uma atuação mais consciente, sustentável e diferenciada em um mercado cada vez mais exigente.


4. Estratégias para Líderes Gerenciarem Emoções e Potencializar Resultados


Para os profissionais que desejam aprimorar suas habilidades emocionais e melhorar a performance de suas equipes, algumas práticas são essenciais:


1. Pratique a autoconsciência: Acompanhe suas próprias emoções e identifique gatilhos emocionais. Pergunte-se: “Como estou me sentindo agora? Como essa emoção pode afetar minhas decisões?”


2. Regule suas reações emocionais; Antes de responder a um e-mail difícil ou dar um feedback, respire e avalie a melhor abordagem. Equilíbrio emocional melhora a clareza nas interações.


3. Desenvolva empatia ativa: Busque compreender as emoções e motivações da sua equipe. Escute de forma genuína e demonstre interesse pelo bem-estar dos colaboradores.


4. Transforme o ambiente de trabalho em um espaço de segurança psicológica: Equipes que se sentem seguras emocionalmente são mais inovadoras e produtivas. Incentive um ambiente onde as pessoas possam se expressar sem medo de julgamentos.


5. Forneça feedback com inteligência emocional: Ao dar feedback, equilibre objetividade e empatia. Em vez de criticar, ajude o colaborador a enxergar soluções e caminhos de melhoria.


6. Invista no seu próprio desenvolvimento emocional: Cursos, leituras e treinamentos sobre inteligência emocional são fundamentais para fortalecer habilidades interpessoais e de liderança.


Conclusão


A inteligência emocional consolidou-se como uma competência essencial para o sucesso no ambiente de trabalho contemporâneo. A compreensão de que emoções influenciam diretamente decisões, relacionamentos e performance rompeu com o paradigma da racionalidade absoluta e abriu caminho para uma gestão mais humana e estratégica dentro das organizações.


Entretanto, mais do que uma habilidade necessária para o exercício da liderança, a inteligência emocional tornou-se também um diferencial para a construção de trajetórias profissionais sólidas e sustentáveis.


Profissionais que desenvolvem sua capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar emoções fortalecem virtudes fundamentais para o crescimento ao longo da carreira, como resiliência, adaptabilidade, empatia e influência positiva.


Em última instância, compreender e gerenciar emoções de forma consciente não é apenas um recurso para otimizar o desempenho organizacional: é uma escolha estratégica para impulsionar o próprio crescimento e garantir relevância e impacto ao longo da jornada profissional e do desenvolvimento da carreira.


E você? Como tem integrado a inteligência emocional ao desenvolvimento da sua carreira?


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Referências Bibliográficas


DAMÁSIO, Antônio. O erro de Descartes: Emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.

KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

LOPES, Paulo N. et al. Emotional intelligence and social interaction. Personality and Social Psychology Bulletin, v. 32, n. 8, p. 1018–1034, 2006.

O’BOYLE, Ernest H. et al. The relation between emotional intelligence and job performance: A meta-analysis. Journal of Organizational Behavior, v. 32, n. 5, p. 788–818, 2011.

SY, T.; TRAM, S.; O'HARA, L. Relation of employee and manager emotional intelligence to job satisfaction and performance. Journal of Vocational Behavior, v. 68, n. 3, p. 461–473, 2006.

Tversky, Amos; Kahneman, Daniel. Judgment under uncertainty: Heuristics and biases. Science, v. 185, n. 4157, p. 1124–1131, 1974.

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