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O Desenvolvimento da Carreira do(a) Executivo(a) de Compliance

  • Foto do escritor: Clauber de Andrade
    Clauber de Andrade
  • 1 de jul.
  • 6 min de leitura
mulheres em ambientes corporativos em duas imagens

Resumo


A carreira do(a) executivo(a) de compliance passou por uma transformação significativa nas últimas décadas. De uma função marcada por exigências regulatórias, o papel desse(a) profissional evoluiu para se tornar estratégico na construção da cultura, reputação e integridade das organizações. Este artigo propõe uma reflexão sobre essa jornada de evolução e sobre as competências necessárias para quem deseja ocupar um espaço de protagonismo ético e influência real nas organizações contemporâneas.


Introdução


Nos últimos anos, a função de compliance passou por uma profunda ressignificação dentro das organizações. O que antes era visto apenas como um mecanismo de controle e atendimento a exigências legais passou a ser reconhecido como elemento essencial para a governança, a cultura e a reputação das empresas.

Nesse novo cenário, o(a) executivo(a) de compliance deixa de atuar apenas como fiscal ou analista de risco e passa a ser protagonista de transformações culturais que sustentam a ética empresarial. Este artigo convida você a refletir sobre essa transformação e sobre os caminhos possíveis para desenvolver uma carreira em compliance com propósito, protagonismo e real impacto nas organizações.


A Evolução de Compliance nas Organizações


Nos primórdios da sua institucionalização, os programas de compliance surgiram como resposta a grandes escândalos corporativos e à necessidade de mitigar riscos legais, especialmente a partir do mercado e contexto norte-americano.

Um marco importante foi a promulgação do Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) nos Estados Unidos, em 1977, seguido por outras regulamentações importantes, que estabeleceram critérios para a efetividade dos programas de compliance, consolidando uma abordagem mais estruturada e sistematizada para o tema.


No Brasil, o marco mais expressivo foi a Lei Anticorrupção (Lei 12.846/2013), que passou a responsabilizar empresas por atos ilícitos contra a administração pública. A partir desse momento, compliance ganhou força como um imperativo regulatório, com foco em mecanismos de controle, políticas internas e procedimentos de prevenção a desvios éticos.


Entretanto, desde estes momentos muito se evoluiu em termos de sociedade e consequente em termos de desafios empresarias. Destaco aqui a reflexão que eu trouxe no primeiro artigo da minha newsletter: Evolução da Sociedade e seus Impactos nos Desafios Empresariais”.


Neste sentido, vivemos hoje em um contexto social e empresarial em que a confiança, transparência e governança nas organizações se destacam fortemente.

Investidores, consumidores, jovens talentos, empregados, e principalmente a sociedade demandam das organizações muito mais do que resultados financeiros, estes públicos de interesse demandam fortemente a atuação ética das organizações, de forma que o indicador de sucesso das empresas nos dias de hoje é sim a performance financeira e retorno econômico, mas não mais a qualquer custo, e sim de forma que estes resultados seja aliado com o respeito e verdadeira geração de valor ao planeta, às pessoas e à sociedade.


Neste sentido, e como desenvolvi também no artigo Governança e Cultura Ética: O Ciclo do Programa de Compliance, compliance tornou-se um instrumento de sustentação da cultura ética, da reputação e da perenidade das organizações.


Dessa forma, compliance deixa de ser apenas uma defesa contra riscos e se torna uma força propulsora para a construção de organizações mais íntegras, humanas e preparadas para o futuro. Ao promover comportamentos éticos e fomentar relações pautadas pela confiança, essa área consolida seu papel como um dos pilares estratégicos da perenidade e da relevância institucional no mundo contemporâneo.


O Executivo de Compliance como Agente de Valor e Cultura


Essa transformação no significado de compliance dentro das empresas exige também uma nova postura do(a) profissional responsável por essa agenda.


Hoje, espera-se que esse(a) profissional seja um(a) agente de valor para o negócio — alguém que compreenda o contexto estratégico da organização, participe das decisões de impacto e contribua ativamente para a construção de um ambiente organizacional saudável, ético e transparente.


Como desenvolvi no artigo A Mentalidade dos Profissionais para o Ambiente de Governança e Integridade Corporativa, o protagonismo do(a) executivo(a) de compliance vai além da técnica: ele depende da mentalidade com que o profissional encara sua função e sua capacidade de influenciar pessoas com ética, propósito e intencionalidade.


Mais do que conhecer ferramentas, normas ou legislações, o(a) executivo(a) de compliance precisa entender fundamentalmente de gente: suas motivações, seus dilemas, seus comportamentos cotidianos.


Por isso, o(a) executivo(a) de compliance que deseja se destacar nesse novo cenário precisa ir além do domínio técnico. Escuta ativa, empatia genuína, influência ética, capacidade de adaptação, liderança com propósito e sensibilidade para dialogar com diferentes públicos se tornam atributos indispensáveis para quem busca gerar impacto real.


Esse momento exige mais do que conhecimento: exige consciência. A consciência de que o protagonismo nessa área dependerá da disposição para expandir repertórios, desenvolver novas habilidades e agir com intencionalidade diante dos desafios que se impõem.


E entre todas as competências a serem desenvolvidas, uma delas se destaca como ponto de partida para essa jornada: a capacidade de compreender — de forma profunda — o comportamento humano.


A Centralidade do Comportamento Humano na Atuação do Executivo de Compliance


Defendo que, hoje em dia, o que pode diferenciar o(a) executivo(a) de compliance contemporâneo(a) é sua capacidade de compreender, de forma profunda, como as pessoas se comportam nas organizações.


Isso porque, cada vez mais, o programa de compliance formal — embora suas estruturas e requisitos técnicos sigam sendo relevantes — já não é suficiente para responder aos desafios empresariais atuais. É essencial criar um ambiente no qual executivos e colaboradores estejam genuinamente engajados com as diretrizes de compliance, contribuindo de forma contínua para a elevação da cultura de ética empresarial.


Para isso, conhecer processos, estruturas e ferramentas não basta. É fundamental que o(a) profissional de compliance entenda como as pessoas pensam, sentem, decidem e se comportam no ambiente organizacional — especialmente se deseja exercer uma influência autêntica e duradoura sobre elas.


Temas como motivação humana, vieses cognitivos, influência social, aprendizagem em adultos e formação de hábitos ganham espaço como ferramentas estratégicas de gestão da cultura organizacional. Destaco, nesse contexto, a importância que desenvolvi no artigo “Cultura de Integridade: A Compreensão do Comportamento Humano na Construção de Organizações Éticas”, no qual aprofundo o papel desses fatores na efetividade dos programas de compliance.


Essa consciência ampliada — sobre os indivíduos e os sistemas em que estão inseridos — é o que diferencia o(a) profissional que apenas aplica regras daquele(a) que inspira confiança, promove reflexão e conduz transformações reais e duradouras.


A Necessidade de Desenvolvimento Consciente da Carreira


Diferentemente de trajetórias mais tradicionais, a carreira em compliance exige do(a) profissional uma postura ativa, com clareza de propósito e disposição para o autodesenvolvimento.


Mais do que seguir um caminho pré-definido, é necessário construir sua própria jornada com intencionalidade, alinhando competências, valores e o impacto que se deseja gerar na organização.


O(a) profissional precisa ser o(a) arquiteto(a) do seu próprio desenvolvimento, conduzindo sua jornada com visão de longo prazo e sintonia com os valores que deseja representar.


Como já explorei em artigos anteriores, a mentalidade de crescimento (Dweck, 2017) e a autoeficácia (Bandura, 1997) são fundamentos centrais nesse processo (relembre aqui o artigo sobre autoeficácia no contexto do desenvolvimento da sua carreira: “Liderança e Andragogia: A Técnica de Ensino a Serviço da Influência no Mundo Corporativo”. A primeira diz respeito à crença de que se pode aprender e evoluir continuamente; a segunda à confiança na própria capacidade de agir e gerar impacto.

Para desenvolver uma carreira sólida e estratégica em compliance, recomendo refletir sobre quatro elementos essenciais:


  • Planejamento com propósito, conectado à cultura organizacional e aos valores pessoais;

  • Consciência e clareza de papel, ampliando-se a compreensão do contexto atual e a consequente demanda que recai sobre os profissionais de compliance, e interpretando este momento como verdadeira oportunidade para o desenvolvimento profissional;

  • Atitude protagonista, para assumir a direção de sua carreira e ampliação de sua disposições para o desenvolvimento das competências necessárias para o preenchimento desta oportunidade;

  • Adaptabilidade contínua, diante de contextos regulatórios, tecnológicos e humanos em transformação.


Conclusão


O desenvolvimento da carreira do(a) executivo(a) de compliance exige, hoje, muito mais do que excelência técnica. Exige visão. Exige direção. Em um cenário no qual a integridade se torna vantagem competitiva e o comportamento humano é a chave para a construção de culturas organizacionais sólidas, abre-se um campo fértil de possibilidades para quem está preparado para ocupá-las.

Essas oportunidades, no entanto, não se concretizam por acaso. Elas são capturadas por quem planeja, por quem desenvolve competências com intencionalidade e por quem escolhe evoluir com propósito. Assumir o protagonismo da própria trajetória é o primeiro passo para exercer influência real — dentro e fora da organização.

A pergunta que fica é: você está conduzindo ativamente o desenvolvimento da sua carreira ou apenas reagindo às circunstâncias?


O momento para refletir, decidir e agir é agora.


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Referências Bibliográficas


  • BANDURA, Albert. Self-efficacy: The Exercise of Control. New York: W.H. Freeman, 1997.

  • DWECK, Carol S. Mindset: a nova psicologia do sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017.

  • SOUZA, Clauber Andrade. Cultura de Integridade: A Compreensão do Comportamento Humano na Construção de Organizações Éticas. Artigo da Newsletter.

  • SOUZA, Clauber Andrade. Governança e Cultura Ética: O Ciclo do Programa de Compliance. Artigo da Newsletter.

  • SOUZA, Clauber Andrade. Evolução da Sociedade e seus Impactos nos Desafios Empresariais. Artigo da Newsletter.

  • SOUZA, Clauber Andrade. A Mentalidade dos Profissionais para o Ambiente de Governança e Integridade Corporativa. Artigo da Newsletter.

  • SOUZA, Clauber Andrade. Liderança e Andragogia: A Técnica de Ensino a Serviço da Influência no Mundo Corporativo. Artigo da Newsletter.


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