A Mentalidade dos Profissionais para o Ambiente de Governança e Integridade Corporativa
- Clauber de Andrade

- 26 de jun.
- 6 min de leitura
Atualizado: 29 de jun.

Resumo
No dinâmico cenário das organizações, a mentalidade dos líderes e, principalmente, dos profissionais mais relacionados à Governança e Integridade Corporativa desempenha um papel crucial. Este artigo explora a importância de elevar o pensamento estratégico para o que eu chamo de "Pensamento Nível 2". Ao adotar uma visão além dos objetivos táticos, os profissionais podem se posicionar como verdadeiros guardiões da reputação e da integridade corporativa e, com isso, ampliarem as oportunidades profissionais e o desenvolvimento de suas carreiras.
Introdução
Nas duas primeiras edições desta Newsletter, abordamos como a governança corporativa e a integridade empresarial estão em constante transformação (Edição nº 1) e como as lideranças desempenham um papel essencial na construção de um ambiente ético e estratégico (Edição nº 2).
Nesta terceira edição, aprofundamos a discussão ao focar na mentalidade necessária para que os profissionais dessas áreas transcendam suas funções operacionais e assumam um protagonismo estratégico no fortalecimento da reputação e da integridade organizacional.
Este artigo propõe o conceito de "Pensamento Nível 2", um modelo que desafia os profissionais a repensarem seus objetivos e impacto estratégico. Essa abordagem não apenas impulsiona as organizações rumo a uma governança mais robusta e eficaz, como também pode transformar carreiras.
Do Pensamento Automático ao Pensamento Estratégico
Para abordarmos o assunto de mentalidade e níveis de pensamento no contexto corporativo, é fundamental, antes, entendermos um pouco sobre o comportamento e como funciona o cérebro humano.
O cérebro humano é uma máquina extraordinária, projetada para processar uma quantidade imensa de informações a cada instante. A cada segundo, bilhões de neurônios estabelecem conexões, formando uma complexa rede de comunicação que consome uma quantidade significativa de energia.
Contudo, ao longo de sua evolução, o cérebro desenvolveu uma característica essencial para a sobrevivência humana: a capacidade de priorizar funções básicas e assegurar nossa adaptação ao ambiente.
Essa natureza adaptativa, como destaca Damásio (1994), reflete a importância evolutiva de priorizar funções essenciais para a sobrevivência. A economia de energia é uma estratégia do cérebro para gerenciar a sobrecarga de estímulos e tarefas, priorizando ações automáticas que demandam menos esforço cognitivo.
Como mencionam Baars e Gage (2010), esse mecanismo permite que recursos mentais sejam preservados para situações mais complexas ou desafiadoras, garantindo que possamos reagir rapidamente em momentos críticos e manter funções essenciais para a sobrevivência.
Essa preferência pelo "modo automático" permite que decisões rotineiras sejam tomadas sem grande esforço, como ao dirigir, organizar documentos ou reagir a estímulos simples. Entretanto, essa economia de energia também pode limitar a capacidade de avaliar criticamente situações mais complexas.
Kahneman (2012) complementa essa visão ao descrever dois sistemas principais que governam o pensamento humano:
Sistema 1 (Pensamento Rápido): Automático, intuitivo e eficiente. Ele utiliza padrões já conhecidos para tomar decisões rápidas, mas sua rapidez o torna suscetível a vieses e erros de julgamento.
Sistema 2 (Pensamento Devagar): Deliberado e analítico. Esse sistema exige maior esforço cognitivo, avaliando opções de forma mais detalhada e crítica. É fundamental para resolver problemas novos ou tomar decisões estratégicas, mas, por ser mais exigente, o cérebro o utiliza apenas quando necessário.
No ambiente profissional, muitos operam predominantemente no "modo automático" (Sistema 1), especialmente em tarefas rotineiras ou para atender demandas urgentes. Porém, questões mais estratégicas, como proteger a reputação organizacional ou construir um ambiente de governança e integridade, certamente requerem a ativação do Sistema 2.
Com base na divisão dos sistemas de pensamento descritos por Kahneman (2012), desenvolvi o conceito de "Níveis de Mentalidade", aplicando essa analogia ao ambiente profissional. Assim como o cérebro opera em dois sistemas cognitivos — um mais automático e outro mais deliberado —, também é possível identificar dois níveis de mentalidade nos profissionais no contexto organizacional.
Esses níveis ajudam a diferenciar abordagens mais operacionais de perspectivas estratégicas, fundamentais para o ambiente de governança e integridade corporativa.
Pensamento no Nível 1: Caracterizado por uma abordagem técnica e operacional, onde o foco está em cumprir demandas e metas imediatas. Aqui, o profissional age dentro dos limites de suas responsabilidades diretas, priorizando a eficiência e o cumprimento de objetivos pontuais.
Pensamento no Nível 2: Representa um salto estratégico, no qual o profissional vai além das tarefas técnicas e reconhece que suas ações têm impacto direto na reputação organizacional e na construção de um ambiente ético. Nesse nível, o profissional se posiciona como um agente de transformação, conectando suas funções ao propósito maior da organização.
Essa construção dos Níveis de Mentalidade nasceu da minha percepção de que, para alcançar excelência no ambiente corporativo — especialmente em áreas relacionadas à governança e integridade corporativa — é imprescindível que os profissionais se distanciem de uma visão limitada e adotem uma perspectiva ampliada, que agregue valor estratégico e ético às suas atividades.
O que é o Pensamento Nível 2?
O "Pensamento Nível 2" exige que os profissionais transcendam o cumprimento de metas imediatas e compreendam que o objetivo final de suas funções vai muito além das tarefas operacionais ou técnicas.
Nesse nível, o foco passa a ser a contribuição para a construção de um ambiente sólido de governança e integridade corporativa, no qual valores éticos e reputacionais sejam priorizados.
Um profissional de uma área técnica pode entender que seu papel imediato é atender às demandas específicas de sua função, como elaborar relatórios ou resolver problemas pontuais. Entretanto, operar no Pensamento no Nível 2 significa reconhecer que essas atividades são apenas parte de um objetivo maior: proteger e fortalecer a reputação da organização, promovendo uma cultura de integridade que beneficie todos os stakeholders.
Vamos pensar, por exemplo, em um(a) executivo(a) jurídico(a). Se este(a) profissional acreditar que o seu objetivo final na organização em que trabalha é entregar a melhor estratégia jurídica, tal fato é virtuoso e provavelmente o(a) fará atuar em alta performance. Porém, vejo que este é um exemplo de Pensamento no Nível 1.
Se este mesmo(a) profissional se desafiar a pensar que o seu objetivo final é assegurar a reputação e o ambiente de governança e integridade corporativa da empresa em que trabalha, certamente haverá uma elevação de mentalidade, e, principalmente de forma de atuação.
Mentalidade de Crescimento: A Chave para a Transformação
A transição para o Pensamento Nível 2 exige esforço consciente e intencional e desafia os profissionais a reavaliarem seus papéis, questionarem padrões estabelecidos e alinharem suas ações a uma visão de longo prazo.
Para isso, os profissionais precisam, antes de tudo, desenvolver a consciência sobre a importância dessa mudança. Além disso, é essencial que estejam dispostos e intencionados a adotar uma nova mentalidade, traduzida em ações e decisões estratégicas.
Carol Dweck, em Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso (2017), explica que habilidades e talentos podem ser desenvolvidos com esforço e aprendizado contínuo. Essa perspectiva de mentalidade de crescimento é essencial para os profissionais que desejam migrar para o Pensamento no Nível 2.
Essa transição exige:
Esforço Consciente: Reconhecer a importância de ir além das responsabilidades técnicas e adotar uma visão estratégica.
Aprendizado Contínuo: Buscar conhecimento e habilidades que permitam alinhar práticas operacionais aos objetivos de governança e integridade.
Superação de Barreiras Internas: Identificar e superar resistências que limitam o desenvolvimento de uma mentalidade estratégica.
Pensamento Nível 2 como Oportunidade de Carreira
A transição para o Pensamento Nível 2 não apenas beneficia as organizações, mas também oferece aos profissionais uma oportunidade única de diferenciação e crescimento.
Profissionais que adotam essa abordagem estratégica podem:
Ser Reconhecidos: Adicionar valor estratégico os torna mais valorizados pelas organizações.
Evoluir na Carreira: A mentalidade do Nível 2 cria oportunidades para liderar iniciativas transformadoras.
Construir Reputação: Alinhar objetivos pessoais ao propósito organizacional fortalece sua marca profissional.
Por último, elenco aqui algumas dicas, não exaustivas para você elevar o seu Pensamento para o Nível 2:
Amplie sua Consciência: Saia do “modo automático” e desenvolva uma visão clara acerca do contexto empresarial do mundo de hoje e das oportunidades existentes.
Invista no Autoconhecimento: Entender suas forças e áreas de melhoria é essencial para o crescimento e para alinhar suas ações a uma visão mais estratégica.
Busque Mentoria Profissional: Profissionais experientes podem oferecer perspectivas valiosas sobre como alinhar decisões e ações aos objetivos maiores da organização, ajudando a expandir sua visão.
Cultive uma Mentalidade de Aprendizado: Esteja aberto a feedbacks, encare desafios como oportunidades de crescimento e busque constantemente adquirir novos conhecimentos e habilidades. Isso fortalece não apenas sua competência técnica, mas também sua capacidade de adaptação e evolução.
Conclusão
O "Pensamento Nível 2" traduz um conceito que desenvolvi para dar significado a uma transformação essencial para os profissionais de governança e integridade corporativa. Ele desafia a visão tradicional de funções técnicas, destacando a importância de proteger a reputação organizacional e fomentar uma cultura ética robusta.
Essa abordagem exige esforço consciente, intencionalidade e uma mentalidade de crescimento. Embora essa mudança demande esforço e dedicação, ela oferece um diferencial competitivo valioso, posicionando os profissionais como protagonistas estratégicos, capazes de liderar com propósito e criar impacto positivo duradouro.
E você, está pronto para elevar sua mentalidade ao Nível 2?
Reflita sobre as ações que podem transformar sua forma de atuar e fortalecer seu impacto na organização e deixe seu comentário ou compartilhe suas experiências. Juntos, podemos aprender e crescer.
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Referências Bibliográficas
Baars, B. J., & Gage, N. M. (2010). Cognition, Brain, and Consciousness: Introduction to Cognitive Neuroscience. San Diego: Academic Press.
Kahneman, D. (2012). Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar. Rio de Janeiro: Objetiva.
Dweck, C. (2017). Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva.
Damasio, A. (1994). O Erro de Descartes: Emoção, Razão e o Cérebro Humano. São Paulo: Companhia das Letras.










