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O Desenvolvimento da Carreira do(a) Executivo(a) Jurídico(a)

  • Foto do escritor: Clauber de Andrade
    Clauber de Andrade
  • 29 de jun.
  • 6 min de leitura
Homem caminhando.

Resumo


A trajetória profissional do(a) executivo(a) jurídico(a) passou por uma transformação significativa nas últimas décadas. De um papel técnico e mais restrito à interpretação da legislação, evoluiu para uma função estratégica, com forte interface com o negócio, a governança, a ética e a cultura organizacional. Neste artigo, trago uma reflexão sobre as competências exigidas desse profissional no cenário atual, as oportunidades de expansão de sua carreira além dos limites tradicionais do Direito e a importância do planejamento consciente para quem deseja conduzir sua evolução profissional.


Introdução


Nos últimos anos, o papel do(a) executivo(a) jurídico(a) tem passado por uma verdadeira ressignificação. A atuação puramente técnica e restrita ao cumprimento normativo já não é suficiente para responder aos desafios de um ambiente empresarial cada vez mais dinâmico, complexo e interdependente.


O mundo corporativo exige hoje uma postura mais estratégica, colaborativa e orientada por propósito. Nesse novo cenário, o(a) profissional do Direito que atua em funções executivas precisa desenvolver uma nova mentalidade e ampliar sua atuação para além dos limites tradicionais da função jurídica.


Este artigo propõe uma reflexão prática — e baseada em minha trajetória de 25 anos em posições de liderança jurídica em grandes empresas — sobre como evoluir de uma identidade técnica para uma atuação executiva plena.


O Executivo Jurídico nas Organizações Contemporâneas


Ao longo de 25 anos atuando na liderança de áreas jurídicas em grandes organizações, pude observar de perto a transformação no papel esperado desse(a) profissional.

O que antes era uma atuação que se limitava a interpretar a legislação ou emitir pareceres técnicos, hoje evoluiu para um patamar que certamente exige um olhar multifacetado, capaz de articular conhecimento jurídico com visão de negócio, sensibilidade institucional e habilidade de influência.


Cada vez mais, o(a) executivo(a) jurídico(a) tem sido chamado(a) a participar – e muitas vezes liderar – frentes estratégicas que vão além do escopo jurídico tradicional. Isso inclui governança corporativa, compliance, gestão de riscos, sustentabilidade, relações institucionais e outros temas relacionados à reputação corporativa. A presença jurídica deixa de ser meramente consultiva para se tornar parte integrante e ativa da gestão organizacional.


Não se trata apenas de uma ampliação de escopo, mas de um verdadeiro reposicionamento da identidade profissional destes profissionais. O(A) advogado(a) corporativo é cada vez mais visto(a) como agente central na sustentação ética e na perenidade do negócio — alguém capaz de articular a legalidade com a legitimidade e de promover a coerência entre valores e práticas empresariais.


É por isso que defendo que o(a) executivo(a) jurídico(a) podem e devem assumir o papel de atuação como verdadeiro(a) guardião(ã) da governança e da integridade corporativa, com uma atuação que não apenas assegure o cumprimento das normas, mas que o(a) leve a uma atuação protagonista de uma cultura organizacional ética, resiliente e orientada por princípios. (relembre aqui o artigo da minha newsletter que trata da governança e integridade corporativa).


A Oportunidade Única da Ampliação da Relevância do Executivo Jurídico


Esse conjunto de novas demandas e verdadeiras novas expectativas que recaem sobre os profissionais jurídicos podem sim ser entendidas como obrigações adicionais e até mesmo como excesso de responsabilidades. Porém, entendo que todos nós devemos reconhecê-las como verdadeiras oportunidades profissionais.


A convergência entre o conhecimento jurídico e a crescente valorização de princípios como ética, transparência e sustentabilidade coloca o(a) executivo(a) jurídico em uma posição privilegiada para ampliar sua influência e seu escopo de atuação.


Sua capacidade de navegar com segurança por temas sensíveis, compreender riscos legais, mediar interesses múltiplos e proteger a reputação organizacional o torna uma peça-chave para a governança moderna.


A Necessidade do Desenvolvimento de Competências


Entretanto, se por um lado as oportunidades se multiplicaram, por outro, é necessário reconhecer os limites impostos por uma formação tradicional. A formação jurídica no Brasil — ainda fortemente moldada por uma abordagem conteudista e centrada no domínio técnico da legislação — prepara o advogado para operar dentro de um sistema jurídico, e não necessariamente dentro da lógica e complexidade de um sistema empresarial.


É comum que os(as) profissionais jurídicos estejam apto para litígios, redação de peças e atuação em ambientes formais, mas sem preparo para leitura de cenários de negócios, gestão de pessoas, liderança organizacional ou atuação preventiva.


Essa lacuna torna-se especialmente evidente quando o profissional é inserido em contextos que demandam articulação estratégica, influência institucional e visão de longo prazo sobre os rumos do negócio.


O interessante, no entanto, é que a própria formação jurídica já desenvolve algumas competências valiosas, como pensamento sistêmico, raciocínio estruturado e visão estratégica. Essas competências são altamente transferíveis para o ambiente corporativo contemporâneo.


Entretanto, para que o(a) profissional jurídico(a) assuma um papel executivo pleno, é indispensável complementar essa base com habilidades que ampliem sua capacidade de influência e liderança. Isso inclui, por exemplo, a necessidade de desenvolvimento de comunicação eficaz com públicos diversos; inteligência emocional e empatia; capacidade de tomar decisão com ambiguidade e celeridade; liderança voltada à cultura organizacional; gestão de pessoas e competências interpessoais.


Só com essa combinação — entre a lógica jurídica estruturada e a fluência nas habilidades organizacionais — é que o(a) executivo(a) jurídico(a) poderá ocupar de forma estratégica os espaços de decisão e contribuir de maneira integral para a construção de organizações éticas, resilientes e preparadas para o futuro.


A Expansão de Mentalidade e a Autoeficácia


Para capturar as oportunidades que se abrem neste cenário contemporâneo e conduzir de forma intencional a própria trajetória, o(a) executivo(a) jurídico(a) precisa romper com o chamado "modo automático" de atuação.


Como explorei em um artigo anterior sobre planejamento de carreira, muitos profissionais operam sob padrões herdados ou consolidados, baseados em modelos de sucesso do passado, sem refletir se ainda correspondem às exigências do presente. Essa inércia pode impedir o aproveitamento de novas possibilidades e restringir o crescimento profissional.


Nesse contexto, é essencial desenvolver o que Carol Dweck (2017) definiu como mentalidade de crescimento — uma abordagem psicológica baseada no fato de que as habilidades, competências e inteligência podem ser desenvolvidas por meio de dedicação, esforço deliberado e aprendizado contínuo.


Ao contrário da mentalidade fixa — que parte da premissa de que talentos são inatos e limitados e sem espaço de desenvolvimento ao longo da vida — a mentalidade de crescimento permite que o indivíduo enxergue desafios como oportunidades, aceite críticas construtivas e se engaje ativamente em processos de transformação pessoal e profissional.


Desenvolver essa nova mentalidade exige, antes de tudo, coragem para questionar certezas consolidadas, reavaliar crenças construídas ao longo da trajetória e se abrir ao desconforto que acompanha qualquer processo real de crescimento.


Trata-se de um movimento interno que demanda esforço, autoconhecimento e disposição para lidar com a incerteza — especialmente em contextos de transformação profissional.


Nesse caminho, destaca-se também o papel da autoeficácia, conceito central da Teoria Social Cognitiva de Albert Bandura. A autoeficácia diz respeito à confiança que o indivíduo deposita em sua própria capacidade de organizar e executar ações voltadas à conquista de metas específicas (Bandura, 1997)


Essa crença influencia diretamente a forma como enfrentamos desafios, mantemos a motivação e persistimos diante de obstáculos. Como mencione em um artigo anterior da minha newsletter, fortalecer a autoeficácia é decisivo em momentos de transição de carreira, pois é ela que sustenta a ação mesmo quando o cenário é ambíguo, novo ou incerto — como costuma ser o caso dos profissionais que buscam expandir seu papel para posições executivas.


A Necessidade do Desenvolvimento Consciente da Carreira


Diante de todo este contexto (da necessidade de romper com o modo automático, de desenvolver uma mentalidade de crescimento, e de fortalecer a autoeficácia) torna-se evidente que o planejamento de carreira é mais do que uma escolha: é uma condição estratégica para conduzir, com intencionalidade, a própria evolução profissional.


Para isso, certamente será necessário que o(a) profissional jurídica(a) amplie sua consciência e empregue verdadeira intencionalidade em alguns aspectos do seu desenvolvimento, tais como:


  • Planejamento de carreira com propósito, alinhado a valores pessoais e à estratégia da organização;

  • Consciência sobre o seu papel e objetivos, e intencionalidade para buscar seus caminhos de desenvolvimento;

  • Atitude protagonista, com disposição para agir e liderar sua própria evolução profissional;

  • Adaptabilidade contínua, diante de contextos marcados por ambiguidade, inovação tecnológica e transformação organizacional.


Essa clareza — sustentada pela autoconfiança, pelo propósito e pela disposição para aprender continuamente — é o que abre espaço para uma atuação mais inovadora, influente e sintonizada com os desafios contemporâneos da liderança jurídica.


Conclusão


O desenvolvimento da carreira do(a) executivo(a) jurídico(a) é, hoje, uma jornada que exige reinvenção, coragem e transformação profunda da identidade profissional. As exigências contemporâneas extrapolam o domínio técnico do Direito e exigem uma atuação estratégica, sensível às dinâmicas organizacionais e comprometida com a construção de culturas empresariais éticas, resilientes e orientadas por valor.

Para responder a essas demandas, não basta apenas estar preparado(a) tecnicamente. É necessário ampliar a mentalidade, adotar uma postura protagonista e desenvolver competências que fortaleçam a capacidade de influência, liderança e tomada de decisão em ambientes complexos.


Nesse processo, a autoeficácia e a mentalidade de crescimento são alicerces essenciais — pois é a crença na própria capacidade de agir, aliada à disposição contínua para aprender, que sustenta os movimentos de transição e expansão.


Os(as) profissionais jurídicos(as) estão, hoje, diante de uma oportunidade única de reposicionamento e ampliação de sua relevância dentro das organizações. Entretanto, para que essa oportunidade se converta em avanço concreto de carreira, é indispensável um esforço claro e consciente de desenvolvimento — que envolva a revisão de crenças, o fortalecimento de novas competências e a adoção de uma postura intencional diante das escolhas profissionais.


A evolução não será fruto do acaso, mas da capacidade de cada profissional de enxergar essa nova realidade, planejar sua jornada e agir com protagonismo para ocupar com excelência os novos espaços que se abrem.


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Referências Bibliográficas



  • DWECK, Carol S. Mindset: a nova psicologia do sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017.

  • BANDURA, Albert. Self-efficacy: The exercise of control. New York: W.H. Freeman, 1997.


 

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